segunda-feira, 21 de março de 2011

Carta de Suicídio

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Carta de Suicídio

Aos camaradas presos no Rio de Janeiro
em 18 de Março de 2011

A caneta desliza agora
Mais pesadamente sobre o papel
Peso maior do que toda a tinta
Gasta em todas as constituições

Em verdade, esta carta
Não apresenta grande novidade
Nasci das mesmas mãos burguesas
Que, como presas, são responsáveis
Por meu infanticídio

Criança retratada de seios nus
Explorada e abusada de norte a sul
Parto para garantir
Que meu último ato seja livre

Já me tiraram a personalidade
A fala, o significado
Morro para conservar
Minha universalidade

Como herança
Deixo meus próprios herdeiros
Aguardando meu retorno
Em suas mãos e candeeiros
Em todas as barricadas
De todo e cada dia.

Assinado: Democracia. 

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Tuitaço

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Tuitaço
Objetivo tópico
Ser tópico objetivo
140 por hora
Da luta civil
À revolução spamnhola
Pesam @s nas costas
O tópico não toca o utópico 

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Crônica cor

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Crônica cor

Abra a janela e veja
a rua
E veja os prédios e note
que ela não é sua
Veja a coisa pública
A pudica faixa de ônibus
E os ônibus, seus donos
E veja o cinza dos prédios,
do céu, dos véus
Onde as meninas,
suas saias e sandálias
vermelhas, verdes, azuis...
Desafiam petulantes
O cinza que nos esmaga
Desafiando a crônica cor
amarga
Pontos de luz anti-monomania
Fume o cigarro amargo
Beba o café amargo
Livre de todos os encargos
Vista a blusa
e pinte também a calçada
A rua não é sua
Por ser ela viva
É carne e é crua
 

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Às Ruas

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Às Ruas
Andei perdido entre
as letras
Procurava-as aqui
e acolá
Encaixava-as a
Palavriar
Buscava o sentido
Compreendia e perdia
Perdia o tempo
Perdia o dia
O sentido só é
quando é sentido
Volto às ruas
Plenas de confusão
As panelas às mãos
A história aos pés
Não falo.
Grito
Não compreendo.
Sou
Movimento

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Deitas

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Deitas

As horas viraram barro
duro e sujo
de um marrom defeituoso

Cercaram praças, fados,
jardins, pomares e tudo
Cercaram o som, o novo

Cercaram a cama e o quarto
Mas teu hálito cobriu-me mudo
Como se fora casca, feito ovo

Realizo(-me) em ti teu corpo
e meu sonho
Sou carne, ossos, pelo, suor

O barro derrete
Funde-se estranho
É cerâmica secando ao sol

domingo, 14 de novembro de 2010

O Tempo e a Reza

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O Tempo e a Reza

O tempo é a cadeira
da gente
Da gente 
que anda esperando
sentada
Que anda
sentada ou curvada
Cabeça abaixada
Chão duro, a
esperança dobrada
Multiplicada 
ou subjugada
A gente esperando
sentada
Anda
de cá pra lá e
reclama calada
o dia derradeiro
do último desespero

As nuvens

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As Nuvens

Sobre ler Maiakovski

Restou-me invejar
O poeta da camisa amarela
Que carregava estampada em
Vermelho a quebra
do quotidiano

Restou-me invejar
A sabença da visão aquarela
Que pintava alva nuvem
Sendo plena a querela do fim
do quotidiano

Falar de nuvens em
Meio a mudança dos planos
Falar das sempre brancas
Nuvens, no romper
do quotidiano